Vontade de rasgar essa pele, de rasgar essa carne, de rasgar esse peito,
e de mostrar do que ele é feito,
E de mostrar meus órgãos, e mostrar meu sangue,
e mostrar do que eles são feitos
E de mostrar minha mente,
e de ver como essa coisa tão frágil e doentia
é capaz de controlar esse organismo tão complexo, essa obra-prima da organização
E como, a cada dia que passa, essa mente se torna mais doente, mais frágil, mais perdida...
Se ao menos tivesse a tranquilidade da loucura total e incapacitante!
Mas o tipo que me ataca é a mais cruel, a mais sádica;
é aquela que me incapacita todas os minutos,
é aquela que me impede de fazer o que desejo,
é aquela que me faz remoer as palavras durante horas,
é aquela que me faz perder horas chorando por atos passados, aquela que pesa em minha consciência, aquela que atrapalha meus planos futuros;
A loucura que me acomete atende pelo nome de razão.
é um caso raríssimo e incurável
se ao menos fosse abençoada com a liberdade das loucuras das ciências, da medicina.
se ao menos pudesse, se se se se se...
se me fosse retirada essa maldição,
essa doença que me consome ao poucos,
que me rói a pele e os músculos e os órgãos e os sistemas e o organismo inteiro
que destrói da ponta dos dedos ao pedaço de carne mais interior,
se ao menos me transformasse em uma carcaça vazia,
em epiderme e ossos frágeis,
no puro pó das estradas e no puro pó dos sonhos;
aí sim eu poderia defender a existência de algo superior;
enquanto isso, mantenho-me remoendo esse pedaço apodrecido,
escondida das cores dos olhos alheios.